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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

DESAFIO: Testar uma receita com "ora pro nobis"

Costelinha com Ora-Pro-Nobis e Angu Mole
Este desafio começou com uma limpeza de pele... Conversa vai, conversa vem com a esteticista, a Zezé, e logo caímos no meu tema preferido: culinária! A Zezé, mineira, é cozinheira de mão cheia e herdou da mãe a habilidade de cozinhar com calma e paciência... Preparar pratos em panelas de barro que levam horas no forno ou no fogão a lenha assando, cozinhando, pingando água, pingando gordura... Pura tradição da verdadeira comida mineira!

Em uma destas conversas, entre uma máscara no vapor e uma esfoliação, a Zezé me perguntou se eu conhecia a "ora-pro-nobis". Eu sabia que se tratava de uma verdura utilizada na cozinha mineira, pois minha mãe já havia comentado sobre ela quando foi a Tiradentes! Mas meus conhecimentos paravam por aí... Não me lembrava de tê-la provado e muito menos sabia onde poderia comprar ou conseguir este ingrediente! Mas a Zezé resolveu o problema para mim: me mandou um maço das folhinhas verdes e tenras, colhidas do seu próprio jardim, prontinhas para me desafiarem a fazer um prato típico mineiro!!


E a "solução" do desafio continuou com a ajuda dos leitores do face: coloquei uma foto das folhinhas, perguntando que ingrediente era aquele! E fiquei surpresa com as respostas, pois a maioria conhecia a ora-pro-nobis!

 Vejam o texto enviado pelo leitor Edur Fernandes dos Santos, via Facebook:
Trata-se de um cacto trepadeira que atinge 10 m de altura, proveniente de uma família de regiões quentes e secas das Américas. Tem folhas lanceoladas, ou seja, semelhante à ponta de uma lança, e verdejantes, flores brancas e espinhos, sendo perfeitamente utilizado para a formação de cercas-vivas, vivendo bem tanto à sombra quanto ao sol. Propaga-se por estacas.Na cactácea, flores e folhas são comestíveis, além delas, a planta oferece frutos espinhosos de coloração alaranjada na maturidade. Ramos e caules são frequentemente verdes e fotossintetizantes, também recobertos por espinhos.Devido à sua riqueza proteica, é denominada carne de pobre. Suas folhas, de sabor semelhante ao do espinafre, possuem cerca de 25% de proteína, 85% da qual em forma digestível, portanto, facilmente aproveitável pelo organismo humano. Quando picadas, essas folhas exsudam uma espécie de visgo.
Refogadas ou cruas, tanto flores quanto folhas se prestam a alimentação humana, podendo ser aproveitadas também por animais, in natura ou na ração.Com as folhas adicionadas à farinha, se faz nutritiva massa para pães. Delas também se fazem tortas, omeletes e suflês. No interior de Minas Gerais, onde é muito apreciada, é misturada ao feijão, combinada com o angu, cozida com galinha (à cabidela) ou usada em substituição às folhas de couve. Fica bem no acompanhamento de carnes suínas e de aves, como as costelinhas e o frango, em que a planta é utilizada sem o talo.Das flores se faz proveitosa salada, além dos refogados.
O nome científico homenageia o cientista francês Nicolas Claude Fabri de Pereisc, e o termo aculeata significa espinho, agulha; o nome popular, ora-pro-nobis (“rogai por nós”) vem do latim e se deve ao fato de, segundo a lenda, nos tempos do ciclo do ouro, na Vila de São José, onde hoje se tem Sabará, São João del-Rey, Ouro Preto e Tiradentes, padres europeus residentes, aproveitando a robustez dos espinhos espalhados por toda ela, fazerem cercas vivas com a planta para circundar as igrejas. Em pouco tempo, as qualidades gastronômicas do cacto já eram conhecidas, sobretudo pelos mais pobres do local, que passaram a consumir as folhas como mistura na alimentação diária, fazendo com que ficasse conhecida como carne dos pobres, também por conta de suas proteínas.Sem o desejo de verem desfolhados seus arbustos cactáceos, os padres vigilantes estavam sempre de prontidão na defesa das cercas. Somente baixavam a guarda durante os sermões da missa, rezada em latim, momento em que os desvalidos apreciadores da iguaria aproveitavam para fazer sua colheita.Durante o sermão, na ladainha em que se pede aos santos para rogarem por nós, a frase em latim era repedida – ora pro nobis – servindo de deixa e de nome ideal para o alimento recém-descoberto. A ladainha de todos os santos estendia-se por longos minutos, e dessa grande oração tem-se o seguinte trecho:
Christe, exaudi nos. Pater de caelis Deus, miserere nobis. Fili Redemptor mundi Deus, miserere nobis. Spiritus Sancte Deus, miserere nobis. Sancta Trinitas, unus Deus, miserere nobis. Sancta Maria, ora pro nobis. Sancta Dei Genetrix, ora pro nobis. Sancta Virgo virginum, ora pro nobis. Sancte Michael, ora pro nobis. Sancte Gabriel, ora pro nobis.[…]
Jesus Cristo, atendei-nos. Deus pai do céu, tende piedade de nós. Deus filho, redentor do mundo, tende piedade de nós. Deus Espírito Santo, tende piedade de nós. Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das virgens, rogai por nós. São Miguel, rogai por nós. São Gabriel, rogai por nós.[…]
Considerada iguaria das mais interessantes, em Sabará, a planta recebe uma festa em sua homenagem, na qual as produções a partir dela são tema central.
Além desta descrição detalhadíssima sobre a planta, sua história e usos, recebi também várias sugestões de receitas, principalmente da turma mineira, que conhece e utiliza muito este ingrediente! As sugestões incluíam: saladas, omeletes, refogados, cozidos com frango, com costelinha, com polenta, com peixe... Acabei escolhendo a receita enviada pelo leitor Denilson Lourenço, de Costelinha com Ora-Pro-Nobis, servida com Angu e Arroz com Alho! Deu água na boca só de ler a receita! Outra receita que ele enviou, Frango Cozido com Ora-Pro-Nobis, ficou na minha lista... Só preciso conseguir mais das folhinhas da Zezé!!

Além do utilizar a ora-pro-nobis em uma receita, fazer o angu também virou um desafio! Encontrei a receita no blog "Socorro na Cozinha". Sempre achei que fazer angu era difícil: tinha dúvidas quanto ao ponto, quanto aos temperos, quanto ao tempo de cozimento! Tanto que, sempre que fiz "polenta" (o angu italiano), utilizei a "milharina", que é o fubá pré cozido! Maior bobagem! A polenta feita com fubá é fácil de fazer (1 parte de fubá para 2 partes de água para a polenta - ou angu - dura e 1 parte de fubá para 4 partes de água, para a polenta - ou angu - mole) e fica saborosíssima!

Toda esta combinação - costelinha de porco, temperos ao estilo mineiro, longo tempo de cozimento, a ora-pro-nobis, o angu mole e o arroz branco com alho - ficou simplesmente deliciosa!! Uma refeição aconchegante, que alimenta com carinho toda a família!!

Agora o "desafio" vai ser conseguir uma muda de "ora-pro-nobis" para plantar no meu jardim! Será que a Zezé consegue prá mim??? rs

Costelinha com Ora-Pro-Nobis e Angu Mole

(6 pessoas)
Para as costelinhas
  • 2,5 kg de costelinhas cortadas em pedaços (no osso)
  • 2 1/2 litros de água
  • 1 colher de sopa de óleo
  • 1 colher de sopa de sal
  • 1 cebola média ralada
  • 1 dente de alho amassado
  • 1 colher de sopa de urucum (colorífico)
  • 1 folha de louro
  • 50 ml de aguardente (ou conhaque)
  • 50 ml de suco de limão
  • pimenta a gosto
  • folhas de ora pro nobis sem o talo e picadas
Para o Angu
  • 4 xícaras de água 
  • sal (ou um caldo de carne)
  • 1 xícara de fubá
Ferva a água com a aguardente (ou conhaque) e o suco de limão. Coloque as costelinhas e deixe cozinhar por alguns minutos. Escorra e reserve as costelinhas. Em uma frigideira grande, aqueça o óleo e frite as costelinhas aos poucos, deixando dourar bem. Despreze a gordura da frigideira, aqueça uma panela grande de ferro, coloque as costelinhas, acrescente a cebola, o alho, tempere com o sal, o louro, o urucum, um pouco de água, a pimenta, tampe, deixe ferver e abaixe o fogo. Deixe cozinhar por umas 2 a 3 horas, completando com mais água sempre que começar a secar.


Enquanto cozinha a costelinha, prepare o angu: aqueça a água em um panela grande, tempere com sal (ou o caldo de carne) e vá juntando aos poucos o fubá, mexendo sempre com uma colher de pau ou com um fuê (não jogue o fubá de uma só vez, pois vai empelotar!). Deixe cozinhar mexendo sempre, até ficar no ponto que você quer. Se ficar muito grosso, junte mais água (cuidado porque, enquanto ferve, ele solta "bolhas" que podem queimar!).


Prepare a ora-pro-nobis: lave bem, corte o cabo e o talo, pique as folhas e reserve.


Quando a costelinha estiver pronta (desmanchando e soltando do osso), desligue o fogo, junte a ora pro nobis e tampe (não mexa para não soltar o visco das folhas).


Sirva com o angu mole e arroz branco com alho.

Para saber como preparar o Arroz Branco soltinho, clique aqui! Capriche no alho! E Bon Appetit!

Costelinha com Ora-pro-nobis e Angu Mole, by Desafios Gastronômicos

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