Ouvíamos tanto falar nas suas águas claras, nas suas areias brancas e macias, em seu pequeno e receptivo povoado, mas nunca conseguíamos completar nossa viagem até lá... Ora porque é longe... Ora porque o tempo não estava favorável... A Parnaioca era nosso destino no último feriado, o Carnaval... Fomos com o Black Swan (nosso lindo veleiro preto) até a Ilha Grande, chegamos até a ponta dos Meros, mas o vento sudoeste não nos deixou seguir em frente... Aliás, pernoitar na Parnaioca exige condições especiais de vento e mar... Por isso é um local tão “encantado”...
Mais um feriadão chegou, a Páscoa, e novamente nosso destino era a Parnaioca (prá falar a verdade, eu estava até com receio de me decepcionar, dada a elevada expectativa que este destino estava causando!).
A previsão do tempo era, finalmente, otimista... Céu sem nuvens, mar e vento favoráveis... Saímos de Paraty rumo à Ilha Grande, acompanhados do Veleiro Filho do Vento, dos nossos amigos Murilo e Mariza. Os outros veleiros da turma, o Vento, o Skua e o Xupolho (uma linda e romântica homenagem a dois dos mais expressivos ingredientes da nossa culinária – o Xuxu e o Repolho), estavam algumas milhas à nossa frente, rumo ao mesmo destino.
Tivemos alguns percalços no caminho e o vento não estava tão favorável assim, o que nos fez atrasar um pouco o horário de chegada... Depois de um pôr do sol espetacular, decidimos parar na Praia dos Meros para o pernoite, pois a entrada na Parnaioca, um local ainda desconhecido para os comandantes do Black Swan e do Filho do Vento, não era recomendável no escuro...
Dia seguinte, acordamos bem cedo, com o sol iluminando tudo... Como a Praia dos Meros é linda!! Conseguíamos ver o fundo de areia, com mais de 10 metros de profundidade!
Partimos para a Parnaioca e, menos de uma hora depois, chegamos (finalmente!) ao nosso tão esperado destino! O Vento e o Skua já estavam ancorados por lá!
O medo da decepção desapareceu imediatamente! Que lugar especial! E que bom que é tão difícil chegar lá... Talvez, por isso, esteja tão preservado! Difícil, também, é acreditar que a Parnaioca já foi um dos maiores povoados da Ilha Grande, com mais de 1000 habitantes...
Escondida atrás de uma espessa vegetação, há uma pequena estrada de areia que corre em paralelo ao mar... Este é o acesso para uma pequena igreja, um pequeno cemitério, o camping do “Seu” Sílvio com 17 barracas (isso mesmo, nem 16, nem 18... 17 barracas, limitadas e controladas pelo IBAMA) e a casa da Dona Marta... Da praia, via-se uma pequena e singela placa: “Prato Feito” da Dona Marta.
Minha curiosidade gastronômica aguçou-se automaticamente! Precisava conhecer a Dona Marta e seu PF!
Caminhamos para dentro da estradinha e logo chegamos a uma casa simples, com uma varanda e uma mesa rústica com bancos, onde 4 jovens, provavelmente hóspedes do camping, tomavam café da manhã... Dona Marta, uma simpática senhora, estava servindo a mesa e logo os jovens começaram a elogiar a “comidinha caseira” servida ali, todos os dias. Perguntei como era o PF: “arroz, feijão preto, farofa, salada e peixe frito”, tudo feito no fogão a lenha, por R$ 14,00 por pessoa! O dia, para comer peixe, não podia ser mais propício, Sexta Feira Santa! Reservamos nossos “PFs” para uma hora mais tarde...
Chegamos uns 15 minutos mais cedo e nos sentamos em uma das 2 mesas de um pequeno quiosque coberto de lona plástica azul e sacos plásticos cheios de água pendurados sobre a mesa (achei um tipo de decoração bem alternativo, mas depois descobri que os sacos estavam lá para “espantar os mosquitos”... Não me pergunte como, mas parece que funciona!!)...
De lá, dava para ver a Dona Marta preparando o almoço em seu fogão a lenha... E faz tudo sozinha! Segundo ela mesmo diz, "tem que cozinhar, servir as mesas, e ainda bater papo e ser simpática com os fregueses"!
O aroma da lenha queimada no fogão a lenha me fez lembrar minha infância... Os finais de semana que passávamos no nosso sítio em Juquitiba, a casa do caseiro, onde a Dona Rosa, nossa caseira, cozinhava em seu fogão a lenha... Era uma atração para as crianças! Ficávamos o dia todo por perto, tanto que, no final do dia, quando voltávamos para casa, minha mãe dizia: “Todo mundo para o banho, tirar este cheiro de murrinha!! Até hoje não sei a origem desta palavra, mas descreve o cheiro de quem ficou perto do fogão a lenha o dia todo, depois de brincar e transpirar muito!
Quando a comida chegou, deu para perceber o carinho e dedicação daquela senhora simples, em um lugar tão distante e isolado, com seus “fregueses”: um prato com arroz feito na hora, feijão preto fresquinho e bem temperado... Um prato de salada de alface, cenoura e feijão fradinho... E os peixes fritos ("vermelhos"), inteiros, fresquíssimos, pescados no dia anterior...
É fácil pensar em um desafio gastronômico quando se pretende provar uma comida da alta gastronomia... Há dezenas de restaurantes que servem pratos elaboradíssimos e caríssimos... Basta querer gastar seu dinheirinho e o desafio está resolvido!
Mas este desafio foi diferente! Provamos uma refeição que Dona Marta faz para sua família e que, como meio de sobrevivência em um local tão ermo, sem energia elétrica, sem transporte rotineiro, a 5 horas de caminhada do porto mais próximo, serve os turistas que, como nós, tem o privilégio de visitar este lugar mágico, a Parnaioca!!
Obrigada pela recepção, Dona Marta! E parabéns pelo capricho e qualidade do seu PF! Além da bela paisagem desta linda praia, sua comidinha caseira ficará na nossa memória!
ihhh, o Alê ficou sem pf, coitado!
ResponderExcluirFiquei não! Tinha panqueca de carne com milho. E "bati" um pratão de arroz e feijão preto com farinha. Muito bom!!!
ResponderExcluirGalera, alguém tem o telefone da Dona Marta?
ResponderExcluirhttps://www.facebook.com/CampingMartaParnaioca/
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