As "Bialeines" ou "Madeleines Inventadas da Bia" |
Sempre tive vontade de testar uma receita de madeleines, mas a ausência da forma específica me impedia... Na realidade, não conseguia imaginar as "madeleines" em outro formato que não fossem as tradicionais conchas...
Pesquisando na internet, encontrei muitas histórias sobre o famoso doce francês, conforme nos conta uma interessantíssima reportagem do Paladar:
A versão mais difundida para a origem das madeleines conta que, em 1755, numa situação de emergência, pois o confeiteiro titular faltara ao serviço, uma jovem empregada da marquesa Perrotin de Baumont preparou a receita da avó para um banquete em homenagem a Stanislas. O ex-rei e então duque de Lorena adorou a novidade e quis conhecer a autora, perguntando-lhe o nome, onde nascera e como se chamava a invenção. Ela disse chamar-se Madeleine Paulmier e revelou ter nascido em Commercy. Como o bolinho não possuía nome, Stanislas o batizou: “Vai se chamar madeleine de Commercy”. No dia seguinte, enviou a novidade para a filha comilona, Maria Leszczynski, mulher de Luís XV, na Corte de Versalhes. Até a morte do duque de Lorena, em 1766, a receita permaneceu secreta. Para alguns pesquisadores, foi Pantaléon Colombé, patriarca de uma família de confeiteiros e padeiros, quem a liberou ao conhecimento público. Segundo o historiador Charles Dumont, as madeleines de Commercy só começaram a fazer sucesso na França em meados do século 19, com a inauguração da estrada de ferro. Em 1939, ainda resultavam de produção artesanal, preparadas por seis confeiteiros, que elaboravam diariamente cerca de 2.500 bolinhos. Existem também as madeleines de Liverdum, igualmente na Lorena, porém menos conhecidas.
Entretanto, o mais destacado protagonista da história da especialidade foi o escritor francês Marcel Proust. No Caminho de Swann, primeiro dos sete volumes da obra-prima Em Busca do Tempo Perdido, ele conta como conheceu as madeleines e revela o prodígio que operaram em sua vida e arte. Num dia de inverno, chegando em casa com frio, a mãe lhe deu o bolinho acompanhado de uma taça de chá. Ao levar um pedaço à boca, amolecido pela bebida, veio-lhe à mente não apenas a lembrança do passado, mas a sensação de resgatar a própria infância. A madeleine tinha o mesmo sabor da que sua tia Léonine lhe oferecia todo o domingo de manhã, anos antes. Essa metáfora do paladar revivido, uma experiência desprezada por tantos adultos, pode ser interpretada como a vitória da memória sobre a sovinice do tempo. Uma coisa é certa: Proust ingressou tardiamente na saga do bolinho, mas sem ele as madeleines não obteriam a mesma fama internacional.
Mas a minha inspiração não foi a história ou a origem da Madeleine, tão pouco o seu sabor que remete a infância (já que não nasci na França...) Foi um programa super gracinha chamado "A Pequena Cozinha em Paris", no canal BBC, onde uma jovem chef inglesa, Rachel Khoo apresenta receitas francesas em seu minúsculo apartamento em Paris, que também é um restaurante! Certamente o menor restaurante do mundo, para duas pessoas, no máximo!! Com apenas um fogão de 2 bocas, uma geladeira pequena e um forno, ela faz receitas deliciosas, como estas madeleines recheadas de lemon curd e framboesas!
Mesmo com esta linda inspiração, eu continuava "travada" por não ter a forma correta... Aí, meu maravilhoso livro "Illustrated Baking" me deu uma luz: em sua receita de Madeleines, ele indicava duas possibilidades de forma: a de madeleines (óbvio!) e a de mini cupcakes! Bingo!!! Mas esta forma eu tenho!!!!
Mas não basta a inspiração, a receita, os utensílios e os ingredientes disponíveis! Tem que ter a oportunidade também!! E ela surgiu em pleno domingo, no meio do preparo de um Churrasco para a família!! Enquanto o Alê esperava o carvão (que estava molhado...) ficar em brasas, lá fui eu fazer algo para a sobremesa: as Madeleines na forma improvisada (ok... nada a ver com churrasco, mas oportunidade é assim, surge quando você menos espera... kkkkk).
Não levou nem 30 minutos para ficarem prontas!! E a "criatividade" ficou por conta de mirtilos (ou blueberries) que coloquei no centro de cada bolinho... Bem ao estilo Rachel Khoo!! E assim, na minha (não tão) pequena cozinha em São Paulo, estavam criadas as "Bialeines"!!
"Bialeines" (ou Madeleines Improvisadas da Bia) (20 unidades)
- 4 colheres de sopa de manteiga derretida e fria
- 1/3 de xícara de farinha de trigo peneirada
- 1/3 de xícara de açúcar
- 2 ovos grandes, em temperatura ambiente
- 1 colher de chá de essência de baunilha
- 1/4 de colher de chá de fermento em pó
- blueberries ou mirtilos
- raspas de limão ou laranja (opcional)
- açúcar confeiteiro para polvilhar
- 1 forma de mini cupcakes com 24 unidades
Coloque o açúcar, os ovos e a baunilha na batedeira e bata até que a mistura cresça e fique esbranquiçada (cerca de 5 minutos).
Acrescente a farinha peneirada (e as raspas de limão ou laranja), a manteiga derretida fria e misture delicadamente com um fuê. Com uma colher, coloque a massa até a metade de cada molde e decore com alguns mirtilos no centro de cada bolinho. Leve para assar por 15 minutos.
Deixe esfriar um pouco, desenforme e coloque para esfriar em uma grade. Na hora de servir, polvilhe com o açúcar confeiteiro!
Foto de Alexandre F. Caetano |
Foto de Alexandre F. Caetano |